10 novembro 2010

AFETIVIDADE E SEXUALIDADE EM UM OLHAR JOVEM


Pensando em todas as situações que afetam os jovens do mundo de hoje, a Pastoral da Juventude começa a pensar em como trabalhar a nossa afetividade e sexualidade sendo iluminados pelo evangelho, Jesus nos diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Com estas palavras Jesus convida a nos amarmos para sermos capazes de amar os outros. Amar a si mesmo significa , amar o próprio corpo, a própria pele, seu cabelo, seu sexo, sua raça, sua classe, suas origens, seu passado, sua família, seus amigos. Saber amar o próximo e saber partilhar seus interesses e alegrias, saber escutar, ter paciência e saber perdoar as falhas do outro, ser carinhoso, e doar-se.
Mas, às vezes a doação faz com que o jovem deixe de lado suas relações pessoais, ou seja, amam tanto uma causa, que não se cultivam mais, deixam de lado a família, os amigos, o namoro, e no final acabam se frustrando. O jovem deve saber equilibrar o seu trabalho social e sua afetividade. Quando o jovem não consegue se organizar como pessoa, acaba se afastando de si mesmo e dos outros. Vai assumindo cada vez mais atividades (sociais, religiosas, profissionais) e vai esquecendo da família, dos amigos, da escola, d@ namorad@, não se deixando cultivar e nem cultivando.

Tudo na vida deve ser balanceado, não podemos nos dedicar somente aos estudos e nos esquecermos de praticar esportes; não podemos nos dedicar somente ao lazer mas também ao trabalho; não podemos nos dedicar somente a satisfazer o nosso desejo, mas sim ajudar o outro a alcançar o seu; não podemos apenas ficar sonhando com dias melhores, temos que fazer com que eles aconteçam. A nossa vida é bastante ampla, é uma soma de sonhos, angústias, valores, lutas... e precisa ser cultivada através da amizade, ternura, sexualidade, corpo, amor, festas, diversões, cultura e pela vida em comunidade.
Muitos jovens não aguentam mais ouvir alguém falar coisas do tipo: no meu tempo, os jovens eram isso ou aquilo... no meu tempo, sexo era encarado assim ou assado ... no meu tempo ...para vocês terem uma ideia, para se obter simples informações sobre a sexualidade em algumas décadas atrás era a maior dificuldade. E quando se conseguia essas informações, elas eram centradas só nos órgãos sexuais mesmo, era como se a sexualidade não tivesse nada a ver com o resto do corpo, com os sentimentos das pessoas, com os valores e preconceitos existentes em uma sociedade, tal qual a definimos hoje, se falar sobre sexualidade hoje ainda é meio problemático, imagine como foi isso no passado!
Hoje, pelo menos, o tema é bem mais visível e a sociedade, guardadas as devidas proporções, tem demonstrado até uma atitude mais tolerante perante a sexualidade dos jovens, assim como em relação à homossexualidade. Tanto que, mesmo que as escolas e as famílias não se animem a falar sobre sexualidade e afeto, são vários os espaços, onde já é possível, para as camadas jovens, não só ouvir especialistas falando, mas se discutir de igual para igual sobre os diferentes aspectos da sexualidade e da afetividade, não só no plano biológico, mas também sobre as sensações, as emoções e os conflitos que existem num relacionamento; sobre contracepção; sobre a prevenção das DST/AIDS; sobre a necessidade de se adquirir habilidades para se tomar decisões acertadas e para resistir à pressão do grupo; sobre as diferenças entre os gêneros feminino e masculino; sobre como a mídia trata a sexualidade; sobre como o preconceito afeta a auto-estima das pessoas.


Até aí tudo bem , mas se de um lado a juventude está mais informada a respeito de sua sexualidade e de como lidar com ela, de outro ainda existem muitos pontos onde fica claro que a juventude ainda está muito vulnerável, ou seja, exposta a situações que possam lhe trazer problemas ou prejudica-la. Quando pensamos em drogas, Aids, gravidez na adolescência, violência, isso fica mais evidente.
A família, por sua vez, muitas vezes é responsabilizada por todos as infelicidades do mundo jovem. Mas, há que se dar um desconto, pois nem sempre ela se sente preparada para responder aos anseios de seus filhos e filhas, vale lembrar que os pais e as mães de hoje tiveram muito menos acesso à informação sobre sexualidade, além do que devem ter tido uma educação muito mais repressiva que a de agora. E se ainda não bastasse, querendo ou não, o mundo se tornou muito mais perigoso! Não tem como não se preocupar.
Pensando num plano mais individual, é possível perceber que um dos pontos que os jovens são mais vulneráveis diz respeito ao autoconhecimento e à auto-estima de cada um, em uma relação amorosa por exemplo, quando uma pessoa não se conhece direito, não se gosta e não respeita seus próprios sentimentos, acaba deixando seus desejos e seus valores de lado e aceitando, incondicionalmente, a vontade do outro. É claro que essa relação não vai ser prazerosa para ela, já que deixou de ser sujeito de sua própria sexualidade.
A juventude é uma fase da vida onde se tem que aprender a lidar com muita coisa nova e, na falta de experiências anteriores, muitas das decisões tomadas podem se mostrar, ao final, uma tremenda de uma ‘roubada’. Para evitar que isso aconteça, é necessário se conhecer muito bem, valorizar suas qualidades, saber o que quer e em que acredita e reconhecer as situações que podem se tornar uma verdadeira armadilha e cair fora delas e, na medida do necessário, buscar ajuda!!!
A conclusão a que podemos chegar com isto tudo é que mais do que uma característica pessoal, a sexualidade e a afetividade é uma questão muito mais ampla. Está relacionada também à violação dos direitos humanos, uma vez que o acesso à escola, serviços de saúde, moradia, alimentação, trabalho, segurança, vêm sendo negados a uma boa parte da população. Portanto, sexualidade e afetividade, devem ser vistas não só como uma questão pessoal, mas também uma questão política.

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